Nosso convidado para esta unidade é o Professor Luis Bettencourt Luis é professor residente no Instituto de Santa Fe. Sua formação é em física teórica, mas como muitos no Instituto de Santa Fe, já trabalhou em muitos campos diferentes, desde neurociência computacional a epidemiologia. Muito de seu trabalho atual é focado em estudar cidades como sistemas complexos. Então, bem vindo Luis. Obrigado. Luis, nesse curso cobrimos Escalonamento metabólico. Já conversamos com Geoffrey West. E agora queremos saber como a ciência de sistemas complexos está sendo aplicada ao estudarmos as cidades. deixe-me perguntar : Por que você acha útil olhar as cidades como sistemas complexos? bom, eu acho que a maioria das pessoas que começam com cidades, mesmo que um pouco, sabem que elas são sistemas complexos nessa forma que descrevemos, de modo que obviamente elas se parecem. São feitas de muitas partes diferentes. Parecem muito diferentes. Existem as partes pobres da cidade, as partes ricas da cidade, algumas partes são dedicadas a um ou outro tipo de negócio. Então há muita diversidade. No entanto, Qualquer que seja a forma que você meça, isso faz a cidade parecer muito diversificada. Elas também compartilham outro sistema complexo o fato que cidades em geral estão em aberto, então temos cidades com certamente mais de 10 mil anos, e há algo reconhecível sobre cidades antigas e novas, mas elas também evoluíram obviamente em termos de tecnologia, em termos do que as pessoas fazem, então por conta disso tudo acho que as cidades não são somente algo que você possa estudar somente a partir de suas consequências econômicas sociais, da forma que são, vivem no espaço e ocupam espaço, ou estrutura espacial, então todas essas coisas devem vir juntas vida social, econômica, material, energia, mas também a forma que a cidade existe no espaço e no tempo, porque as cidades estão crescendo agora com grandes cidades suburbanizadas, cidades que existem também no tempo, onde as pessoas vêm juntas durante o dia e então desaparecem à noite elas vão pra casa. As cidades realmente têm a marca de algo que evolui, não em termos de evolução biológica, mas em termos de coisas que ainda lutamos para definir nas ciências sociais o que é evolução, e também, talvez o mais importante, cria uma nova diversidade, novas ideias, novas formas espaciais que refletem o que podemos fazer enquanto espécie quando vamos juntos em um grande número em termos de nossa vida social, então a razão de eu gostar de cidades é que todas essas coisas vêm juntas no mesmo problema OK. Bem, é interessante que você use o termo evolução. Já conversamos sobre isso em muitos diferentes contextos neste curso, e você diz que cidades evoluem talvez não no sentido biológico, mas em algum sentido e as pessoas no passado certamente caracterizaram cidades como sendo algo como organismos então, acho que uma questão é, as cidades são vivas ou faz algum sentido falar sobre isso nesses termos? Elas não são como um organismo, mas evoluem, um organismo sozinho não evolui. Outros, por exemplo, comparam cidades a ecossistemas, Jane Jacobs fez isso no "Economy of Cities". No sentido que um ecossistema tem organismos e espécies que refletem certas propriedades. Propriedades funcionais, talvez, funções que tais criaturas tenham em seus nichos mas é a interação de todas essas funções que criam o ecossistema e em uma cidade é mais ou menos assim, mesmo que com todas as coisas que elas precisem mudar mudassem, na cidade só existe se você tiver divisão de trabalho entre as pessoas, divisão de funções, e sua reintegração então essa diversidade crescente, fora de escala e a produtividade aumentam essa divisão de trabalho e a coordenação de trabalho e a colocação permite. Você pode ter um sistema que evolui nesse sentido que, pelo menos superficialmente, é como a evolução biológica que cria coisas novas. Nesse sentido, a cidade é provavelmente em termos de sistemas humanos, o sistema complexo final, mas é um sistema que é muito interessante, quando comparamos sistemas complexos diferentes, em que há um certo número de criação de coisas novas, e sua seleção ambos ocorrem em biologia, é claro, tornam-se endógenos, tornam-se parte da cidade, por isso as cidades envoluem com um todo tal como, no sentido, um ecossistema, embora de maneiras bem distintas. Considerando um organismo que tem somente uma forma muito limitada de criação de nova informação, através da reprodução, que é aleatória predominantemente, e então a seleção é conhecida ao nível do ambiente. Ok. deixe-me fazer uma pergunta um pouco diferente. Olhando para a escala, diferentes leis de escala e particularmente no contexto da escala metabólica, e eu sei que você trabalhou bastante com isso em cidades, deixe-me perguntar primeiro, o que você vê como o fator principal que descobriu que não era conhecido antes? O que nós sabemos agora é essencialmente, de forma simples, que cidades são basicamente reatores sociais. São um tipo de lugares em aberto onde muitas pessoas podem se encontrar e interagir, e quando as coisas vão bem e necessariamente organizações e tecnologias vêm junto, existem lugares onde podemos fazer muitas coisas boas juntos, em termos de ter novas ideias, produzirmos algo economicamente mais produtivo, e assim por diante, mas é claro que também podemos fazer muitas coisas ruins então o que quero dizer é que existem locais em que muitas pessoas podem interagir reagir umas com as outras, e criar coisas que podemos fazer somente socialmente, existe um tipo de frase famosa de E. O. Wilson, e ele é muito interessado em formigas, e ele chama um conjunto de formigas, uma colônia, de superorganismo no sentido que mesmo em termos genéticos, elas são muito relacionadas, e isso é parte da explicação para sua socialização, mas ele diz que uma formiga sozinha é uma decepção você só descobre o que as formigas podem fazer quando entende como a colônia funciona. Mas de uma forma mais ampla você poderia dizer que um humano sozinho é um pouco de decepção, que é somente quando você consegue integrar o que muitos humanos podem fazer juntos que você entende o que podemos fazer em termos de criatividade e originalidade e como lidamos com nossos recursos, e é isso que as cidades são, cidades são tecnologias para fazer isso. Quando você olha para organismos versus cidades, encontrar distinções interessante que são sutis mas importantes, que é em aberto a forma como entendemos os organismos em algum sentido e também redes de rios, que podem ser algo que cobriu em suas aulas, não tenho certeza. São sistemas que existem em algum sentido para preservar informação ou certamente organismos, a informação já está lá no genoma, mas quando querem fazer isso usando a menor quantidade de energia possível, e forma essas redes que alcançam todas as partes do organismo que permitem fazer isso. Numa cidade como acabei de descrever, é um pouco diferente, porque de alguma forma você quer favorecer essa reatividade de pessoas e organizações, então você quer que as pessoas se movam. As células no seu corpo não se movem e não conspiram para fazer coisas novas. De fato quando elas tentam fazer isso você as mata. Você tem mecanismos para matá-las. Você não quer nada dentro do organismo. Sim, exatamente. Então o que acontece nas cidades é o oposto do que precisa para promover todas essas interações, está fora da recombinação que esses elementos heterogêneos que têm diferentes informações, essas novas ideias novas formas organizacionais. Em ordem para uma cidade promover isso, ainda precisa ocupar, nesse caso, cidades vivem no espaço, então você precisa ter redes que permitam cobrir todo o espaço, e é nesse sentido que tais redes trazem semelhança a um organismo na biologia que também precisa irrigar todas as partes do espaço, mas nessas redes o que você tem é muita informação, pessoas interagindo e criando coisas novas, e essa forma de transporte na verdade demanda mais energia, então é menos eficiente que o organismo, mas também dá um resultado maior e é isso que chamamos de superlinear, então você encontra essencialmente que há um resultado superlinear em termos de produtos de reações sociais como ideias, inovação, riqueza, e assim por diante, mas você também encontra uma quantidade superlinear de energia, não tanto na rede, que na verdade tende a ser menor espacialmente, mais ou menos como um organismo, mas por que nessa rede menor você precisa mover mais as coisas, mais rápido, e isso acaba criando mais dissipação. Então quando você diz superlinear, você quer dizer que quando procura por alguma funcionalidade a respeito do tamanho da cidade, certo? Sim, então em algum sentido o que você encontra é que essa superlinearidade significa que se você medir alguma propriedade da cidade, digamos o PIB ou o número de crimes, e se você olhar as cidades que você pensa serem comparáveis, usualmente no mesmo país, mas com tamanhos diferentes, então você tem pequenas cidades, grandes cidades, e você pergunta como essa propriedade varia com o número de pessoas na cidade, com a população, você encontra que socio-economicamente as coisas aumentam mais rápido que a população então as taxas per capta aumentam, e é por isso que cidades grandes são mais caras, mas as pessoas também ganham mais, muitas vezes elas são mais perigosas, e assim por diante. Basicamente essa é a característica essencialmente uma aceleração da taxa dessas interações socioeconomicas, essa reatividade. Então o reator é basicamente tornar-se um pouco mais quente, em algum sentido como uma estrela. Eu gosto de usar às vezes a analogia de uma estrela. Elas se parecem com estrelas, onde temos mais massa, as reações no centro são mais rápidas, e a estrela é mais quente e tudo é mais rápido. A esse respeito, é muito como uma estrela, mas quantitativamente é um pouco diferente entre a física e as ciências sociais é diferente. O que ganhamos prevendo tudo isso? Quais aplicações dessas medidas? Primeiro entendermos que tipo de sistema complexo as cidades são, porque bem, como você sabe, e provavelmente as pessoas nos assistindo sabem, pelo menos desde Platão e Aristóteles, as pessoas vêm debatendo que tipo de sistema uma cidade é e como deveríamos lidar com isso, em termos de políticas ou desenvolvimento de infraestrutura, etc. Deveríamos querer mais cidades, menos cidades, que tipo de cidades, o que podemos de fato querer do prefeito para fazer a cidade melhor? Se você pensar numa cidade primordialmente como uma rede social que existe no espaço e tempo, e se você pensar então na infraestrutura como uma forma para promover sua atividade socioeconomica, então você entende que existe um valor para a infraestrutura, por exemplo, em termos de promover um uso mais eficiente do tempo das pessoas ou custos, em termos de fazer o que as pessoas fazem bem, que é a atividade socioeconômica, então existe em sentido no qual alguém pode começar a colocar um valor ao que a infraestrutura faz de verdade. Você vê muito isso na história do planejamento urbano, os últimos 60 anos, você tem cidades que tendem a ser muito densas, e isso não é bom, pois as pessoas não podem se mover e encontrar pessoas que elas poderiam querer para se organizar e então essas cidades se beneficiam essencialmente de ter uma infraestrutura melhor para promover a mobilidade não somente de pessoas, mas também de coisas e informações mais rapidamente, mas você também tem então nos EUA mais recentemente, cidades que tornam-se grandes demais em termos de infraestrutura onde os custos de apenas se mover pela cidade, pelo menos em tempo, se não em outras formas, são muito altos, então essas cidades são muito diáfanas, e elas deixam de ser lugares fáceis para a interação humana, então a teoria que desenvolvi, basicamente diz quais são os compromissos certos em termos de interação social e as características de infraestrutura, e a estruturação do espaço. A outra resposta é que isso também nos permite colocar em expectativas quantitativas como uma cidade com certas características como tamanho ou área poderiam interferir em termos de sua riqueza, sua inovação, em termos de crime Parte disso é contextual, pois depende um pouco da história do sistema urbano mas parte depende dessas características gerais das cidades, então nos permite dizer um pouco o quão bem uma cidade está fazendo aos seus cidadãos, se preferir. Uma última questão. Qual o tema mais excitante que está trabalhando agora? bem, Essa é uma pergunta difícil, pois você começou dizendo que trabalho em muitas coisas. Estou empolgado com todas, O que falta quando você olha para as cidades e a sociedade de maneira geral é que apesar de agora termos um entendimento razoável das propriedades das cidades versus tamanho temos um entendimento pobre das propriedades da cidade em relação ao tempo. Isso vale para muitas outras. Você quer dizer como elas evoluem? Como elas evoluem no tempo? Como elas evoluem no tempo, e isso com certeza está ligado com questões profundas como a forma como os EUA ou qualquer outro país crescerão economicamente este ano, ou se nossa sociedade será mais pacífica ou menos, porque basicamente o que você encontra é que as propriedades das cidades, que variam em tamanho, são então integradas em termos de sistemas urbanos em cidades de muitos tamanhos, e existem esses fluxos de pessoas e informação que ocorrem entre todos esses locais, então é importante que quando você tiver uma ideia em Nova Iorque, essa ideia seja aplicada, por exemplo, em todo lugar que possa ser útil. Quando você desenvolve computação no Vale do Silício a riqueza de criar isso não é somente a ideia por si só mas é a aplicação da ideia em todo lugar, incluindo agricultura, mineração e atividades primárias. Essa cascata de ideias e organizações por toda a sociedade é o que a maioria das pessoas pensam que acontece quando você pensa sobre progresso econômico, mas também crescimento de outras coisas, tais como melhorias em saúde pública, e assim por diante. Isso é importante em países desenvolvidos, mas é especialmente importante quando você vai a países em desenvolvimento, onde muitas das propriedades das cidades e sociedades humanas que não foram desenvolvidas, não estão lá ainda. Então há uma questão, por exemplo, em termos de infraestrutura e serviços. Há uma questão sobre por qual caminho você pode criar essas propriedades de colonização humana para propiciar uma maneira auto sustentável de criar de novo, interações sociais, ideias, organizações, que permitam a esse sistema continuar e evoluir, e crescer, pelo menos economicamente. Essa é um ponto muito importante que tem a ver com crescimento econômico e outras coisas, e a outra questão é de criar de fato uma teoria estatística do que as cidades são, tanto para organismos e para cidades e ainda mais outros sistemas complexas, para o cérebro e muitos outros sistemas, temos muito pouca ideia de suas características estatísticas. Por exemplo, todas essas leis de escala dão somente um ideia de como um sistema se comporta em média, dado seu tamanho ou qualquer outra característica. Mas quando você olha uma criatura em particular uma cidade em particular, nunca é esse número é algo em torno dele. Então a questão é o que cria essas flutuações todas essas quantidades são muito como flutuações no mercado financeiro, pelo menos em termos de suas correlações múltiplos processos diferentes. Então estão indicando o que acontece em muitas organizações sociais, não somente em cidades, como sendo o resultado de processos que são longas cadeias de causa, mais como formigas, então uma cidade enriquece porque atrai pessoas, desenvolveu alguma infraestrutura, que permitiu a elas fazer o que fazem, e descobriu alguma tecnologia e financiou, e mais pessoas vieram é uma longa história de coisas que precisam acontecer, todas são necessárias em ordem de chegar a um certo lugar. Existem teorias interessante são todas qualitativas, nas ciências sociais, que tentam expressar isso, e são boas candidatas para explicar alguns padrões como crime, riqueza coisas como vantagem cumulativa ou desvantagem, e assim por diante Eu acho que estou perto de ter uma forma de descrever isso estatisticamente e então conseguir algo que posso de fato fazer previsões onde podemos esperar podemos saber o quão errados podemos estar e porque. Bem, isso soa realmente interessante. Esperamos poder saber mais sobre isso depois. Ok, bem, muito obrigada. De nada, foi um prazer.